segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A CARROÇA

Uma das grandes preocupações de nosso pai, quando éramos pequenos, consistia em fazer-nos compreender o quanto a cortesia é importante na vida.
Por várias vezes percebi o quanto lhe desagrava o hábito que tem certas pessoas, de interromper a conversa quando alguém estava falando. Eu, especialmente, incidia muitas vezes nesse erro. Embora visivelmente aborrecido, ele, entretanto, nunca ralhou comigo por causa disso, o que me surpreendia bastante.
Certa manhã, bem cedo, ele me convidou para ir ao bosque a fim de ouvir o cantar dos pássaros. Acedi com grande alegria e lá fomos nós, umidecendo nossos calçados com o orvalho da relva.
Ele se deteve em uma clareira e, depois de um pequeno silêncio, me perguntou:
-Você está ouvindo alguma coisa além do canto dos pássaros?
Apurei o ouvido alguns segundo e respondi:
-Estou ouvindo o barulho de uma carroça que deve estar descendo pela estrada.
-Isso mesmo...disse ele. É uma carroça vazia... de onde estávamos não era possível ver a estrada e eu perguntei admirado:
-Como pode o senhor saber que está vazia?
-Ora, é muito fácil saber que é uma carroça vazia, sabe por quê?
-Não! Respondi intrigado . Meu pai pôs-me a mão no ombro e olhou em no fundo dos meus olhos, explicando:
-Por causa do barulho que faz. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Não disse mais nada, porém, deu-me muito em que pensar.
Tornei-me adulto e, ainda hoje, quando vejo uma pessoa tagarela e importuna, interrompendo intempestivamente a conversa de todo o mundo, ou quando eu mesmo, por distração, vejo-me prestes a fazer o mesmo, imediatamente tenho a impressão de estar ouvindo a voz de meu soando na clareira do bosque e me ensinando:
-Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz!

No universo de teu lar
Não te esqueças do porvir
Criança por educar
É mundo por construir.

João de Deus.
Do livro É para o Resto da Vida
Wallace Leal V. Rodrigues

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